sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

E ela já não sentia nada.

De rainha e de plebéia era feita sua pele
Que preguiçosa se deitava sobre lençóis encardidos de amor
Que pequena se jogava ao vento na esperança de voar
Sem asas, sem cor, sem nada...
Espreguiçava-se.
Jogava-se contra a parede na esperança de acordar e ia até a padaria com o gosto amargo do sonhar
Leite com café.
Café com pão.
Pão com manteiga.
Fruta, mel, abelha.
Levantava com o peso de uma pluma e quase que sentia o vento descobrir-lhe nos esconderijos
Oi João, oi Zé, oi Carol, Maria, Carlos, Eduardo, Luis e Luzia.
Oi vida que me esmaga em ser, oi morte que me desfaz em curiosidade e medo.
Ela era linda, como era.
Era feita, completa, destraçalhada que estralhaça. Era puro paradoxo. Era amor, ódio
Era perdão e culpa. Era felicidade banhada em tristeza.
Era vida.
E se acabou no décimo andar. No pé do décimo.
E dizem que sentia o vento descobrir-lhe nos esconderijos.

-Bem vindos, bem vindos à vida eterna!
Entrem como quiserem e se entreguem ao prazer!
Aqui tudo pode nada é proibido.
Aqui onde os medos não te deixarão, onde o prazer é regido no sempre e o nunca não tem lugar.
Cheguem, sentem-se e se sintam a vontade.
Peguem do doce, do salgado e se lambuzem,meus queridos

Ah, doce ilusão!

Pobres homens e mulheres que queimam nesse canto do anti-paraíso.

E ela sentia o fogo descobrir-lhe os esconderijos.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Papo de máfia,conversa de bar.

Ao batuque do seu som sinto meu corpo se mexer, e como à outra mafiosa, a máfia me consome também. A sementinha já foi plantada e já cresce, e as conversas atravessadas de bêbadas que sonham mudar algo já fazem parte do meu cotidiano. Assim como os olhos, o cheiro e os cabelos de cada uma. E quando estamos juntas, as vozes parecem cuíca e as pernas são como árvores... Fixas na esperança de não se distanciarem muito umas das outras, ainda que na copa o som da vida faça-nos balançar de um lado pro outro. E os cabelos, ai, os cabelos!Uns tão escorridos quanto a queda da Casca D’anta lá das minhas Gerais, outros revoltosos como seu choque depois de metros despencando e outros tão serenos quanto o poço onde o corpo nu se esvai.
Ah!E nada melhor do que uma máfia...o grito Italiano tem mesmo tudo haver conosco!A mama, a massa, o vinho (tudo bem, por enquanto Le Itaipavi- cerveja do João). Mas o conjunto é lindo, é música, é peça e é vida...
Já devo ter comentado a respeito da minha paixão por grupos. Por que quando juntos, eles são completamente completos, e sim, ouso a usar de redundância para isso. Incrivelmente completadas por uma alegria e cumplicidade que chega a contagiar.
E agora, entregue aos braços da máfia, só penso em como será o próximo samba.Só quero saber das gírias,das conversas,das aulas (?) e de todo o mais que acompanha cada uma de vocês.Agora me entrego de corpo e alma,mais alma que corpo,convenhamos,à esse mundo que me foi apresentado.
Agora,e puco me importa o antes e o depois,eu quero ser o corpo que se esvai nu na cachoeira desses seus cabelos.

domingo, 1 de novembro de 2009


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"Não me deixe só
Eu tenho medo do escuro
Eu tenho medo do inseguro
Dos fantasmas da minha voz"

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Praquele moço do "des"...

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Será que você estava mesmo certo desde o início?Por que agora, parando pra pensar e olhando pra trás nesse meu mísero passado, percebo que talvez eu seja mesmo esquisita e sem coração. Não que eu tenha nascido já sem ele e muito menos ele perdeu suas funções biológicas. Do contrário, não seria eu quem escreveria aqui neste momento vivo. Mas digo o coração abstrato, escondido, doído... Este já não me lembro mais. Será praga sua?Dele?Do outro?Será praga minha?
Talvez não tenha um responsável... Foi só meu passado pequenino.
Mas eu juro que já foi diferente. Por Deus!
Juro pelos santos e anjos que já me acompanharam e quer por vez se mostram distantes – ou seria eu?-Juro por todos eles!

Em pensar que falava do teu nome antes mesmo de conhecê-lo.
Em pensar na flor.

Mas cada momento que passamos, cada briga, cada abraço, cada choro, cada insulto seguido de beijos... Tudo foi num momento que ainda estava viva. E desculpa se morri no momento errado.
Desculpas peço a mim mesma tembém... Como pode alguém morrer e renascer pra um mundo tão diferente?Quanta mudança coube nesse novo coração que está a surgir no meio do lamaçal deixado.
Talvez devesse ter lhe dado a chance de brotar (rebrotar) nesse mangue de pensamentos e esquisitices. Mas não poderia deixar algo tão próximo adentrar mais. Você já estava muito dentro de mim pra isso, meu bem.
Tive de deixar isso pro novo, que o faz com um esforço tremendo. Que chega a quase afogar aqui, onde você sempre nadou tão bem.
Tive que dar abertura a quem não conheço e a quem estou conhecendo.
Fugi do pecado deitando em outro,pureza minha.
E me pergunto: Onde eu sou diferente do meu pior pesadelo?Será que ainda estou a dormir?
E nego. Nego a esquisitice, a criancices de adolescente que pensa que viveu muito. Nego tudo e assumo só o “quis assim. melhor assim”.
Mas você não mereceu assim; eu não mereço assim.

E tem o Desamor... Sempre gostei dessa palavra. Talvez mais do que amor.
É desfazer, desprender, suspender o amor. É cômodo. É como se realmente eu pudesse escrever minha vida - assim como sempre quis fazer, mesmo fora de blogs e folhas rabiscadas-, e eu adoro essa possibilidade de apagar imperfeições e reescrever. Passar um backsapace naquilo que me atrapalha e esquecer.
Mas o desamor é ilusão, oras. Por que se quer saber, é impossível esquecer.
Assim como é impossível fazer você parar de participar das minhas histórias, minhas risadas, minhas músicas e palavras. Vai além do amor de um homem e uma mulher – ou seria o amor de duas crianças amedrontadas?
O desamor é um poder teu.Sempre fora.
Desamor.
Desamarrar. Desamarrada. Desamassada. Desabrochar. Deslembrar.
Isso, me deslembre de tudo e qualquer coisa. Ou isso, ou traga de volta aquela outra.A de antes que não te temia tanto.
E agradeça por me desnamorar, me desfazer, me desdenhar. Você é que está melhor do lado daí. Sem essas esquisitices de gente estranha, como você mesmo diria.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Peyote

Lucy in the sky with diamonds.


Com aqueles olhos pequeninos ela jamais poderia enxergar o que realmente estava acontecendo. Mas era lindo, colorido, completamente liberto de qualquer maldade.Era como se seus olhos fossem caleidoscópios.
Ela dançava e sorria... Ela amava e isso era completamente inovador pro coração daquela pobre índia do Atacama. Seu avô fora chefe da tribo, e agora era seu irmão quem comandava aquele povo, hoje já sem esperança. Mas ela ainda lutava!Ela sabia que a vida podia ser diferente do que contaram-lhe os sofredores e reprimidos...
Pq ela sabia andar entre areia e peyotes...
Ela encontrava a paz no sol quente que escurece a pele e o coração. E ela se inebriava!
Era meio índia, meio branca. Carregava o nome da América. Era Lucy.
Ninguém jamais a quisera como amiga... Como poderia uma índia assim?De onde viera?Seria praga dos deuses?Castigo?
Ah!Pobre Lucy!
Mas ela não se importava mais, pq agora tinha sua vida imaginária, que era muito mais interessante que aquela outra do povo, e podia sorrir quando quisesse. A angustia não fazia parte de seu corpo, pq agora ele era livre.
Ele era flor, era ave, era tigre, era porta aberta. The doors.
E a curiosidade pela morte foi trocada pela vida. E o medo da vida substituído pelo prazer de viver. E o povo, a América e a caça... Fodam-se!Era isso que dizia Lucy.
Pq pra ela pouco importava se sua pele era mais clara e haviam flores laranjas saindo de sua cabeça... Ela era tudo, poxa!Não pode?Não se pode ser tudo e todas as coisas ao mesmo tempo?Pq ela era rainha, índia, cacto... Ela era azeda, muito ácida. Mas era doce, como a Ana.
E quando ela rodava, o mundo parecia rodar junto. E quando ela caia um terremoto se alastrava pelo mundo. E quando ela sorria... Ah, quando ela sorria... O mundo inteiro parecia sorrir. Mas quando ela chorava pobrezinha, todos estavam com a foice ao seu lado. Todos.
E gritava sem parar:
-Tudo vai dar certo!
-Gloria, gloria, gloria!
Até chegar o fim,e ela voltava a ser o de antes.
Ele não era seu amigo.Ele era o fim.
E no oeste,tudo era melhor.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Não seja tão má,Amanda.






Missed Me
Dresden Dolls
Composição: Amanda Palmer

missed me missed me now you've got to kiss me
if you kiss me mister i might tell my sister
if i tell her mister she might tell my mother and my
mother, mister, just might tell my father and my father
mister he won't be too happy and he'll have his lawyer
come up from the city and arrest you mister
so i wouldnt miss me if you get me, mister, see?

missed me missed me now you've got to kiss me
if you kiss me mister you must think im pretty
if you think so mister you must want to fuck me
if you fuck me mister it must mean you love me
if you love me mister you would never leave me
it's as simple as can be!

missed me missed me now you've got to kiss me
if you miss me mister why do you keep leaving
if you trick me mister i will make you suffer
and they'll get you mister put you in the slammer and forget
you mister then i think you'll miss me won't you miss me
won't you miss me

missed me missed me now you've got to kiss me
if you kiss me mister take responsibility
i'm fragile mister just like any girl would be
and so misunderstood (so treat me delicately!)

missed me missed me now you've gone and done it
hope you're happy in the county penitentiary
it serves you right for kissing little girls but i will visit if you miss me
do you miss me? MISS ME??
how's the food they feed you??
do you miss me
will you kiss me through the window?
do you MISS ME? MISS ME??!!
will they ever let you go???
i miss my mister so!!!!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Tem dias que a gente se sente...

Hoje acordei um pouco Kurt. Coração de Vinicius, querendo todo amor. Unhas do Zé do caixão, unhando o coração apertado de saudade.
Hoje abri os olhos de ressaca de Capitu. Quis ser Elis, tocar Mozart.
Hoje eu queria ser tudo.
Escolhi roupas de Janis; troquei por Paula Fernandes. Fui hippie e fui da terra.
Hoje clamei Cazuza – coisa que nunca fiz -, sambei Cartola, dancei The Doors.
Senti-me até meio artista macaco.
Hoje quis ser, quis ter...
Hoje quis sarar a dor, provocar o mal, destruir a saudade e voltar pra lá, acolá, do lado de lá.
Hoje quis beijos e sorrisos, choros e barulhos sem fim no silêncio infinito.
Hoje me permiti à incoerência, a inadimplência, a presença do mau-humor constante e inexplicável.
Só hoje...
Por que como seria diferente agora tão longe?
Como poderia não me camuflar em artistas, agora que esse corpo de menina chora de vontades?
Bom, deixe-me então terminar meu dia inventando... Ainda há tantos que quero ser.
Quero um pouco de Amelie, outro tanto de Alice e uma pitada de Pequeno Príncipe.
Deixo lugar também para Rita Lee e seus cabelos de fogo, que me abrem espaço à Kate Nash.
Sou Fátima Bernardes, William Bonner, Evaristo Silva...
Sou o analfabeto da esquina... Sou o crack, o crash e o remédio.
Sou inteira lexotan e homeopatia. Anfetamina. Paracetamol. Sépia.
Hoje não quero ser a dúvida e nem a indecisão... Quero ser tudo ao mesmo tempo.
Pra trazer vocês pra mim, meus queridos. Pra quebrar essa estrada, esse passado, esse tempo linear irritante que me assombra.

sábado, 26 de setembro de 2009

Descanso

Se acaso me encontrares
Escondida em jazida escura
Lembre-se de que foi meu ouro,
procure por minha tumba

"-Aqui jaz pobre coitada
que morreu sem mais demoras,
que pelo amor foi apedrejada
e à sete palmos está agora."

Escrito em palavras sólidas
de dourado e curtas letras.
Epitáfio de alma cálida
cercado por rosas negras

Ah!Se em vida eu estivesse,
se pisasse em firme chão,
ainda arrastaria dias por este amor.

Por que não há beleza se não em ti.
Nem mesmo a luz que se aproxima,
que irradia a minha sina,
é capaz de me inebriar

E quis teus risos,tuas histórias,
teu poema e tua flor.
Quis teus cantos de amor
pra contar-lhe minha memórias

Quis ser harpa dedilhada
Ser alimento e ar...tua vida.
Ser tua mulher,sua amiga,
ser amante e ser amada

Mas me julgastes meretriz!
E tão pouco me quizestes
pra em sua cama me deitar.

E tamanho foi o desamor
que do amor fiquei cansada
e aterrada fui descansar.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Jeito de mato.

Come se fossem intermináveis as férias e/ou feriados seguem por dias, e dias, e horas... Se permitem o desfrute de se eternizarem. E é nesse ponto de pseudo-sempre que surgem as vontades espremidas no cantinho da alma, junto das tais conversas passadistas familiares. Não que isso seja pecado, muito pelo contrário, me parece uma ótima ocupação, mas um tanto quanto decadente. Isso por que somos - nós filhos da tradição e do pão de queijo - construídos de desejos reprimidos e vontades transformadas em piadas. Também temos o doce e o melado da fala mansa, e digo com orgulho. Mas a casa ainda é assassinada pela moral interiorana.

Ah!Se pudesse acho que todos gritariam suas poesias, fantasias e músicas. Declarariam fetiches aos velhinhos do coreto e mergulhariam em uma overdose de alma, diferente desta que tenho visto nas Minas Gerais. Se coubesse nesse tal canto de terra roxa e mato, diriam sobre seus mitos, fantasias e da extrema admiração pelo impossível. E no meio do gado e da baquiária se assumiria o “eu” que mata e sangra o costume dos baianos cansados - mas trabalhadores, que fique claro. Inteiramente desproporcional e indireto.

Mas mesmo com o amargo no fim do doce de figo eu sei que eles gostam... Eu gosto!O frescor do passado. As lembranças, as certezas incontestáveis (agora contestadas), a nostalgia que surge sempre depois de uns goles a mais – e vem carregada de “uai”.
Pode até ser que Drummond estivesse certo ao dizer: “Há os mineiros que ficam e os mineiros que vão”. E realmente, muitos não se adaptarão novamente a casa amada com cheiro de mato... Mas não se esquecerão e, com certeza, apagarão as más lembranças.
Lá, nos meus breves momentos, finjo sem fingir. Me entorpeço no doce azedo da vida, quase uma coalhada, e posso ser quem não sou sem gastar grandes ursupações. A incrível naturalidade de ser quem se deve ser, pensar o que se deve pensar e falar somente o agradável (seguido de “uai”) acontece. Vem de dentro e estoura, fascinando de fora.
Traumas de tradição não destroem o orgulho do pé no chão não, Drummond.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Versos (es)corridos.

Mão-pedra,cai no chão
liberta esse pobre coração que não sabe amar
que samba sozinho no samba pra dois
que anda trôpego por só se calar

Segue caminho de trem
vá como quiser,mas paire longe desse coitado coração
Não vês que está zangado?
Entregue sem perdão?

Se corte na navalha
se queime em brasa quente
Apenas se jogue de um precipício,óh minha querida.

Não ouse se aproximar da boca
Se contenha em unhas e dedos
suma antes que o coração se perturbe
antes que a alma te reconheça e fique louca.

Céu cinza,coração?
é a mão que tapou o sol.
são os dedos que escoam dor.
é o nojo que raia o dia.

Retrato de um passado ou personificação da Morte.

Ao que me parece está começando de novo.A ânsia que vem do ímpeto,a gastrite cardíaca,o nojo ocular e do tempo.Não deveria me atrever a escrever tão cruelmente sobre algo que deveria representar poesia,afinal,existe sentimento mais poético que a dor?O desamor?Receio que haja a Morte,frenética e charmosa dona dos pensamentos mais sublimes e macabros (morte macabra...soa um tanto redundante,não?nemumpoucobonito.)

Estive pensando quanto a cor e o cheiro desse papel virtual em que escrevo.Não que ele exale algo,mas já é de se imaginar que alguém que ama palavras,como eu,se entregue à sinestesia.
O cheiro da dor.O cheiro do desamor.O cheiro do ralo (me parecem tem esquecido do cheiro da Morte.Mas há quem se lembre.)

E por incrível que pareça o cheiro tem um lugar.O grandioso amassado de cimento que me afasta da boca do bueiro é tão próximo que ás vezes minhas pernas tremem.Este enorme cinza que barra o meu vermelho (que acaba por se reproduzir aqui.)Vermelho da terra que sustenta meu campos,todos,os gerais.(ou seria terra roxa?).
E tem o preto do barulho,da sua proteção e locomoção,oh Morte!

E chega de mansinho dessa vez...na madrugada embaça meus olhos e eu sei que está por perto.Muito mais que perto.Dentro de mim.Mais precisamente ao lado do canto que solta o fedor da dor e do medo.

Eu só não quero sair da linha,senhora (or) Morte.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Desmanche seu sorriso,mulher-maravilha!

Nina já não sabia mais como se apresentar as pessoas. Como tudo em sua vida, achava incrivelmente chato ter que dizer esse pequeno nome com o sorriso estampado na cara (como era simpática nossa Nina menina),sendo que por dentro permanecia em pedaços;pedaços intocáveis,que fique bem claro.
Seu nariz parecia deixar vazar aquele incrível vazio que sentia por dentro... Contava seus segredos desenhados em sangue de uma forma que tornava quase impossível estancar.

Aquele rio vermelho que escorria e que por tantas vezes desejara ela sair de suas mãos... Ah, O rio vermelho com gosto de desamor e vadiagem...

Mas se negava a sentir seu gosto. Mais próximo que chegava à boca já era motivo de correr, se cobrir de papel higiênico barato e matar o sinal da morte; jogar aquele sangue amargo de volta para onde jamais deveria ter saído. De sua alma; de seus olhos não tão serenos. O sangue do seu passado não tão antigo; passado de vítima, passado de puta,não é mesmo Nina?

Nina não gostava da não força, preferia parecer sempre super-mulher. Aprendera a ser assim, e é assim que pretende viver até aceitar o super-homem, partir para smallville, prender todos super-vilões, ter super-filhos, e talvez não se sentir super-puta.Quem sabe assim esqueça seu super-passado e se torne super-feliz.Porque neste momento,pobre Nina,sua bochechas doem de forçar sorriso e seu braço é pesado.Peso da mão.Maldita mão.Pra que servem se não para acharem que sabem mostrar o caminho e direcionar o corpo e a alma?Prepotentes, isso que elas são. Prepotentes e de cinco dedos. Gananciosas.

Oh Nina, você precisa de um abraço?Talvez não seja isso. Quer dinheiro?Estudo?
Deixe-me então disfarçar seu sorriso, laciar seu rosto, amolecer sua pele?Amputar suas mãos?Cubra-me de sangue e de lágrimas Nina,e deixe-se vazar de dentro pra fora desta vez.

"Quem manda aqui é a galera do chapéu!"

Tanto tempo assim sem comparecer deve ter um grande motivo certo?E meu motivo tem nomes, sobrenomes, idades, piadas, danças, gírias e fica no interiorzão de Minas Gerais.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Existem dias em que me pergunto:eu fiz a escolha certa?

É estranho dizer isso depois de tantos anos passados. Assim como é estranho dizer sobre anos passados enquanto a minha vida ainda é tão curta; pequena. Mas o que tenho pra dizer é simples aos olhos de quem ama, e extremamente confuso haja vista quem nunca perdeu ninguém ou perdeu-se. O que acontece é que onde quer que eu esteja eu penso em vocês. E o que quer que eu faça me lembra o que eu fazia ao lado de vocês. E às vezes me pergunto: porque ainda me mantenho tão distante?
Não sei a resposta...
Eu sei que vocês construíram parte do que representa o que sou eu. E que nada do que o tempo mostre ou que a distância mude vai mudar isso.
Pq. eu sei que por mais que falemos que a distância nada vai mudar, ela muda. Eu sei que nem sempre vocês pensam em mim com a mesma amizade ou amor, assim como acontece comigo.
Mas eu sei que quando eu penso em identidade, em pessoas e em amigos eu penso em vocês. Quando eu penso na minha infância ou na descoberta da minha adolescência, eu penso em vocês.
Eu penso em quando descobri a maquiagem, o beijo, o amor, a balada, a bebida... Eu penso em quando descobri a vida. E quando eu penso assim, instantaneamente eu me lembro de vocês. E eu sei que isso não é muito coerente já que passo tanto tempo sem ir até perto de onde todos vocês, meus amigos, então. Mas no meu coração ainda existe uma barreira, uma espécie de muro que me barra e me protege de toda maldade que existe a esse redor. Do lado de cá, do inverso desse muro, eu continuo os observando e vendo o quanto são lindos!Eu vejo toda amizade que exala de seus poros e todo o amor de que vocês transpiram. E me dói saber que não estamos mais juntos, e que por mais que sempre digamos: ”não, um dia votaremos ao normal”; isso é uma mentira. A vida está passando e estamos realmente distantes. Vocês já não me contam mais seus segredos e eu não posso mais dormir em suas casas depois de uma noitada. Eu não sugiro suas “ficadas” e não lhes conto do meu novo amor. E me dói isso. Muito. Chega a machucar e fazer as borboletas do meu estômago voarem incessantemente.
Mas sabe de uma coisa?Sempre quando eu olhar pra trás e me deparar com o meu passado eu vou poder dizer com boca cheia.
-Durante treze anos da minha vida eu tive pessoas fantásticas do meu lado. E se agora eu não posso os ter, é porque eu tive que preservar os bons momentos. E isso se refere a todos os momentos, ou melhor,a cada instante que estive perto deles.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O incrível risco de se comer uma ervilha

Emanuelle sentia-se constantemente ameaçada. Trajava roupas sempre limpas, calçados impecáveis, máscaras de proteção, protetor solar, meias antiderrapantes. Na bolsa vinha munida!Eram neosaldinas, vick, oncillon, seringas, bandaids... Tantas coisas que fica difícil citar todas aqui, nestas poucas linhas.

Quando andando na rua jamais se dispersara. Exceto por aquele dia nublado de novembro.
Vinha caminhando trôpega aquele dia, o que não era de costume já que tal atitude poderia levá-la a um acidente. Poderia quebrar os dedos, ou os pés, ou cair e machucar o nariz ou a boca. Sem falar do IMENSO risco de óbito que aquilo traria.
Mas mesmo assim ela continuava com passos tortos e embaralhados.
Sentia uma vertigem que parecia levá-la constantemente ao inferno ou àquele lugar que ninguém sabe onde, o do “belé-léu”, sabem?Bom, este mesmo.

Quase tão confortável quanto uma girafa dentro de uma caixa 10cmx20cm e quase tão lúcida quanto um hippie dos anos 70 em um show de rock. Incrivelmente normal, como se pode notar (assim como nota-se minha ironia).

Cansada de buscar ar naquele gigante de metal, também conhecido como cidade, parou por alguns instantes em um banco de praça. Olhou ao redor. Viu tantas coisas que por um instante sentiu estar em uma mega-blaster-ultra-triplo-mortal-carpado-vertigem.
Era tanto barulho, tanta sujeira, tantos bichos. Ora, pois, aqueles bichos pareciam exatamente com aquela mulher do espelho. Aquela de toda manhã.
Esquecera-se o nome dela.

Olhando por alguns instantes pôde focalizar melhor. Estava ali, próxima àqueles tracejados brancos no meio da avenida – e se ela tivesse um Veja nas mãos naquele momento aquelas linhas se tornariam ainda mais brancas.
Viu então um dos bichos; macho. Brincava com laranjas, jogando-as pra cima como se fossem estrelas caídas do céu. Ria fazendo barulhos estranhos, o que se assemelhava em muito ao som emitido por porcos, outra raça animal. Mas tinha os lábios carnudos, o sorriso amável e os olhos de deuses. Tinha também uma gravata florida; imunda.
Bobagem, era um animal.
Olhou também pra um senhor; sujo. Uma mulher; suja. Uma criança; suja.

Seu pensamento foi interrompido. Faltava-lhe ar.

-Me dê ar?Um pouco!Por favor!Me dá ar!Me dá!Um pouco!Eu peço!Imploro! - Gritava incessantemente nossa menina do espelho – nós sabemos o seu nome, ela não.

O senhor, a criança e a mulher tentaram a ajudar, mas ela não poderia aceitar o toque de mãos tão cobertas de calos e poeiras. Poderia lhe causar uma infecção, claro.
Uma nova mega-blaster-ultra-triplo-mortal-carpado-vertigem. Dessa vez ela cai no chão, imóvel.
Então o cara das laranjas-estrelas-gravata-linhas-sujeira correu e com a boca colada na de nossa intocável lhe devolveu a vida.
Com um suspiro de demasiado vigor ela voltou e disse com a voz trêmula:
-Emanuelle!
Ela se encontrou, se estabeleceu e se descobriu ali, naquela pútrida vida.

Guilhotina

Eu quero poder me embebedar de você!
Quem sabe assim eu possa enxergar o meu vício,que passa despercebido por entre noites em claro.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Amai ao próximo como a ti mesmo.



Sem grandes regalias ou explicações.
Feito por coração puro e singelo
Não um ordeno,mas um conselho.
Não há distinção e nem regras.
Não há nenhuma fórmula para que isso seja feito.
É só o sentir,aliado ao pulsar.

domingo, 28 de junho de 2009

Joana francesa

Vestida de sol e do vermelho mais vermelho entre todos os vermelhos (o que sugere que seja realmente vermelho), ela pôs seus pés pra fora do quarto. Espreguiçou-se como uma gata, com gemidos que pareciam um ronronar.
A noite havia sido dura, se é que me entende. Trabalhara o tempo todo. Extremamente ocupada em dar prazer àqueles pobres coitados, desposados ou não.
Ah!Como aquela noite a cansara. E andando pelo corredor afora era possível sentir seu cheiro de cachaça e suor.
Sentada no bar pedia um duplo, cowboy; rindo maliciosamente para o Seu Chico.
Depois de alguns goles começava novamente seu trabalho. Havia aqueles que reservavam horário, completamente apaixonados por suas mentiras, seus pensamentos, seu trópico. No entanto ela periferia atender aos novos na freguesia.Assim não precisava moldar uma nova forma de atendimento.
Já os velhos a sabiam de cor. Conheciam todos seus gemidos, de prazer e de pavor. De preguiça e de calor.
Lábios de mel eram os dela. Entorpeciam no beijo garotos inexperientes...
Nossa dama - se é que me permitem ousar chama-la assim - era a mais bela mulher. Seus pensamentos inebriavam. Era embebida em sangue e desejo, e a salário, é claro.
A noite, depois de um árduo dia de trabalho, costumava tirar as sandálias que marcavam toda a batata da perna e torcer os dedos. Depois de um banho quente e demorado, vestia uma camisola de bichinhos, herdada da mãe. Completamente broxante (desculpem pela minha vulgaridade). Caminhava segurando sua boneca Íris até a cozinha, onde encontrava novamente com Seu Chico, e tomava uma copada de leite morno com chocolate. Dessa vez nada de sorrisos maliciosos.
Sentia-se criança, sentia-se inteira. Isso a fazia sentir mais prazer do que qualquer detalhe de sua vida operária.
Seu Chico se perguntava:
-Onde é que está seu sol, seus calores?Quem me enfeitiçou?
Seguia pelo corredor até seu quarto e dormia, para acordar para mais um via vermelho.
Já é madrugada. Acorda.
Oh doce dama! Mata-me de rir, fala-me de amor. Vem molhar meu colo. Vou te consolar.

“Tu ris, tu mens trop
Tu pleures, tu meurs trop
Tu as le tropique
Dans le sang et sur la peau”

No colo da benvinda companheira,no corpo do bendito violão.

Já era de se imaginar que para quem faz samba e amor, a vida é mais colorida.
Mas você se enche de cores mais do que qualquer arco-íris pode permitir. Você se fantasia,se esconde, se camufla... Mas eu sei que ai por dentro há um infinito de coisas a serem descobertas e que me trarão fascínio assim como as que já descobri.
E sua voz... Ah, sua voz!Ela exala sinestesicamente (como você gosta tanto). Afinal, ela também é feita de cheiro e cores, como tudo em você.
E sua amizade, seu colo, seu abraço. Seu cheiro, que como já disse a você, é único. Todo seu.
Quem diria que um dia você toda, inclusive seus defeitos (quase imperceptíveis, convenhamos) me derreteriam por inteiro?
Ah moça!Você canta e me encanta.

Obs. acho que você sabe que é pra você, certo?

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Vidas efêmeras,semente de estrela.

A morte é mesmo algo estranho.E nestes rituais mórbidos que se seguem à perda eu vejo mais dor que em qualquer outro lugar.Mas são nesses mesmos rituais que encontramos força pra seguir...é subindo aquele mesmo morrinho do cemitério (novamente...) que enxergamos que a solução é uma só:a união.
Tenho andado esses dias pensando que talvez você devesse ter nascido com rodas no lugar dos pés.Com sorrisos que cubrissem todas as palavras e no olhar a constante imagem da Serra da Canastra.E no coração uma enorme bandeira de Minas Gerais.Se tivesse nascido assim,literalmente,talvez isso te tornaria imortal.Se fosse tudo literal,concreto,entende?!Por que você era feito de tudo isso,assim como era feito de sonhos,de desejos e cheio,repleto de cores.Mas tudo muito abstrato.Muito mortal.
Queria poder enfatizar todas suas qualidades para talvez convecer Deus,Budah ou Alá,seja lá quem for que nos fez isso,de te devolver à nós.
Gostaria de ter suas piadas,sua pressa.Gostaria de vê-lo comendo em pé,acelerado pra cair na farra.Te ligar chamando pra ir pra Bambui e ouvir seu "ooooopaaaaaa".Gostaria de sair,tomar um pó de guaraná na exposição com você só pra aguentarmos mais horas na gandaia.
Mas alguma força,e talvez eu saiba o nome dela,precisou mais de você mais que nós mesmos.E você foi pedalar em novos horizontes...agora você terá todas suas cachoeiras,seus churrascos e sua irmã,ai,do seu lado.
E para quem fica resta o consolo de saber que te amamos,com toda a força de uma família.
E que choramos sua morte como choraríamos uma guerra,e sangramos por dentro,nos desfizemos pela sua perda.
Mas como esquecer seu jeito de dizer pra mim (e pra todos que quisesse ouvir):"É o Brasil né jow!"?E seus péssimos CD'S durante 580 Km de viagem?
Como vou ouvir Chico Science?Como sobreviver à "sindrome do sol nascente" sem você por perto?Como falar de você no passado?Eu não sei ainda,mas sei que ai de cima,do lado desse senhor que insiste em me por à prova,você vai nos ensinar a continuar a vida.
E daqui alguns dias,meses,anos ou talvez breves segundos,nos reencontraremos.Talvez reunamos toda a familia,como nos natais.Iremos comer loucamente a ceia preparada pelas tias no vovô Britto,partir para a mesa farta do vô Juca e depois seguir pra Jingle dance.E lá dançaremos,beberemos e comemoraremos a vida eterna juntos.
Mas enquanto esse dia não chega fico aqui,com a saudade que machuca e a certeza de que tive o melhor primo que alguém pode ter.
Vai em paz gui.Te amo.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Pra que rimar amor e dor?

Pietra,já citada anteriormente,passava as tardes e manhãs sentada em sua poltrona de balançar,na beira da janela naquela rua incrivelmente barulhente.De lá podia ver Theo,nosso menino-deus,todos os dias,caminhando em direção à padaria.Ah como ela sonhava!Pensava ser ela a massa daqueles pãezinhos e ele o padeiro.Sonhos absurdamente clichês e bregas.Mas que alimentavam sua vida com o pouco de aventura e alegria .
Imaginava-se um dia levantando da cadeira,indo até a esquina,aquela da vendinha de Dona Matilde,mãe de Theo,pra encontrá-lo.E de lá eles poderiam caminhar até a padaria.Ela compraria pedaços picados de bolo de milho,mesmo cheios de formigas,e ele pegaria seus pães recém saidos do forno.

Não precisariam trocar nenhuma palavra.Seguiuriam calados,observariam a vida na padaria.As pessoas estressadas logo de manhã. Cheias de pressa, de trabalho, de telefones, de pessoas, de lágrimas e falsos sorrisos.
Ah!Como isso o maravilhava.
Mas não deste sempre. Aprendera a apreciar mais a vida deste que conhecera Theo.

A mãe,Dona Julia,estivera proxima à morte dois anos atrás.Motivo:problemas no coração.Falta de amor era a doença.Pietra,sempre caridosa e solidária,não viu outra solução que não trocar de coração com a mãe.E no lugar do seu ganhou uma pedra,dessa pomes,sabem?Parecem mais macias para quem vê,mas na verdade são como todas as outras.Duras e àsperas.Porém,cheias de buracos.Esses buracos pareciam abrir espaço ao amor que exalava do sangue de nossa menina pagã (negrinha da umbanda).

Mas sentada ali na janela sentia a dor de quem não tem mais voz.Não que essa não saisse se preciso,mas ela apenas não sentia vontade de sair.Sentia-se tão confortável ali,escondida,sem que ninguem pudesse notar o quão trêmula e sofrida ela era.
Mas talvez um dia voltasse à falar...por Theo.Mas isso lhe doeria,ela sabia.Já havia se desacustumado a falar.

Pietra no entanto sabia que vivia um milagre.O milagre de amar.Ora milagre,ora pecado.
E Oxalá à punia por isso todos os dias por isso.

Eu?

Minha preferências mudam e se reinventam constantemente,formando uma teia de aranha que insistem em chamar de "eu",mesmo sem saber direito qual o conceito que explica essa breve palavra.Onde já se viu?"Eu"?E lá existi um jeito de definir essa coiserada aqui em forma de gente?
Ahh não!Isso não!Por que eu não quero nada disso...
Eu quero abondonar esses rótulos,afinal,não sou produto...
Sou feita de desejos incontroláveis,sedes insaciáveis,carne ingulível (como diria minha "parceira",que sabe do que estou falando) e muito,muito sangue vermelho.
E dái se não escolhi ainda a melhor roupa ou melhor música?O que tem se não sei com toda certeza do mundo o que quero do meu futuro?O que importa se não ligo pras consequências,apenas vivo?
Bom,mas nessa confusão toda devo continuar essa mesma aí.Esse "eu" que insistem em trocar pelo meu nome.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Último romance

E aqui de onde estou, do lado de cá, este mesmo oposto ao teu, posso ver tudo de um ângulo que me encanta. E vejo tudo àquilo que quero. Vejo sorrisos, sinto respirações aceleradas... Às vezes chego a confundi-las com as minhas próprias, tão aceleradas quanto, mas um tanto quanto silenciosas, evitando qualquer tipo de desengonço.
Sinto, ou imagino sentir talvez (não sei onde acaba o sonho e começa a realidade pra afirmar categoricamente) seu toque e nele encontro tudo que preciso, agora.
E meus olhos fogem. Fogem pra qualquer lugar vago que aparece, qualquer canto, imagem... Seguem pensamentos que se confundem. Escondem-se perfeitamente por detrás das minhas mãos que insiste em coçá-los, ou talvez das pálpebras que os ajudam na hora do piscar. E seguem assim, por horas se necessário.
E ninguém dirá nada. Não se não souberem. Não dirá o quanto é tarde ou o quanto é diferente. E nem o quão absurdo chega a parecer. Não sentirão receio ou medo, não negarão a verdade incontestável... Não, se não souberem.
E o clichê torna-se incrivelmente fantástico, como se o básico tomasse forma de irreverente e transformador. Devem ser os penduricalhos dos sentimentos. Sabem quais são?São aqueles detalhes que passam por despercebido, ou então que insistem em manter uma posição crucial e esmagadora na formação de um sentimento. Mas nem assim passam de meros detalhes.
Mostre-me agora então tudo que quer. Prove-me, conteste-me. Superestime-me e subestime-me. Deixe-me viver à flor da pele. Deixe-me sentir sua capacidade de me fazer feliz e de me atingir. Permita-me provar também...
Por que quando te vejo as coisas que não fazem sentido são reintegradas ao universo coisificado, e as tantas outras perdem sua razão.
E só de te ver
eu penso em trocar
a minha TV num jeito de te levar
a qualquer lugar
que você queira
e ir onde o vento for
que pra nós dois
sair de casa já é
se aventurar.

Eu quero abandonar o óbvio, me entregar ao ócio e deleitar a vida.

Alguém poderia dizer por onde anda a sanidade?Onde foi que esconderam a razão e a noção das coisas?Onde estará o discernimento quanto ao certo ou errado?
Tudo isso que some e que as pessoas fingem a todo o momento estar tão próximo de si mesmas, me enoja. Assim como também me enoja esse jeito simétrico e perfeito de viver como manda as normas cultas da linguagem, ops, da vida.
Escolho, então, pelo errado. Escolho pelo risco, pelo desespero, pelo sofrimento de sentir a vida em essência. De tomá-la talvez como veneno e não como perfume de jasmim vendido em botequim de esquina.
Eu quero abandonar o óbvio, me entregar ao ócio e deleitar a vida.
Quero acordar mais tarde, dormir mais cedo, trocar de sonhos e manias. Renascer dentro da velha e matar a nova só para sentir o prazer de fazê-la ressuscitar.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Eu sei, todo ser humano ,pode ser um anjo.

As palavras fogem da sua cabeça, assim como qualquer pensamento digno de alguém que se diga são. E todos os dias os passos que levam àquele mesmo caminho, absurdamente rotineiro, travam um colapso nervoso escondido em risadas e piadas sem graça. Camuflam-se entre sinais, carros, buzinas...
Flutuam pelo imenso infinito que separa da realização do desejo.
E os pés se forçam mais ao chão, como quem quer destruir e estraçalhar aquele monte de cascalho que parece estar ali só e exclusivamente para dificultar sua fuga. Mas fugir?Alguém havia falado em fugir?Jamais.
Este nosso pequeno grande homem, Théo, nosso deus endemoniado, jamais fugiria.
O que o movia era exatamente a dor e o ardor de poder estar ali, em direção àquela padaria.
O cheiro do pão, o caminho das formigas que todos fingiam não ver, logo ali, perto da rosquinha de milho. As pessoas estressadas logo de manhã. Cheias de pressa, de trabalho, de telefones, de pessoas, de lágrimas e falsos sorrisos.
Ah!Como isso o maravilhava.
Mas não deste sempre. Aprendera a apreciar mais a vida deste que conhecera Pietra.
Mas isso deixo para contar em outras linhas, talvez.
Sei que a mente do nosso pobre deus andava perturbada, mas incrivelmente feliz.
Crescera entre corais e missas, e o máximo do sexo oposto que chegou a conhecer foi sua mãe, Dona Matilde. Sempre tão zelosa e religiosa. Mal se podia notar sua crueldade e malvadeza enquanto rezava o “Credo” com as mãos atadas.
Essa criação apostólica ofereceu a maior musa de Theo. Por que agora podia ver em Pietra a pele morena de Nossa Senhora Aparecida, e os cabelos de Nossa Senhora de Guadalupe e os olhos da Rainha da Paz. Era a perfeição em forma humana...
Pensava viver ora um pecado, ora um milagre. O incrível milagre que é amar.
E aquele escapulário parecia enforcar-lhe.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Pequena montagem de pseudo autora

Os dentes não mentiam.Ela estava feliz.Pareciam dançar em sua boca,assim como as palvras se montavam e se remontavam em sua mente.Formavam textos,músicas,frases....se uniam em onomatopéias se preciso.O seu grande quadro negro passava 20 minutos repleto de cores.
De dentro daquele ônibus,todos os dias,via a vida.Sentia o cheiro do sexo,do riso,do choro,do rock,do samba.Sentia o gosto da chuva lenta e garoada que escorria pelo vidro sujo.Água ácida.
Olhava pra cima,com a esperança de enxergar algumas estrelas.Mas em grandes cidades como esta não se custuma ter esse prazer.Volta os olhos então para o chão,seguindo os desenhos que o asfalto faz pela cidade.
Olha tudo com um ar ligeiramente disléxico.Banhado à sinestesia.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Doces deletérios

No início me parecia amargo.Aquele gosto me cortava a lingua e eriçava meus pêlos.Após a primeira mordida pude notar um sabor mais azedo,como se embebido em limão.Pus-me a mastigar como quem mastiga a presa mais desejada.Durante as mordidas me libertava do que prende,mas me entregava ao que envolve ainda mais.Sentia nas costas (mesmo estando o alimento na boca)
a insustentável leveza do ser;o peso do sentir.O pesar.O arrepender-se.O entregar-se.
Com a boca inundada em saliva enguli aquele pobre pedaço,agora já um tanto quanto desfigurado,deixando-o à cargo dos orgãos que se escondem por detrás da epiderme.E foi somente neste momento,durante o ato de engulir,é que pude notar e apreciar seu real sabor.
Era incrivelmente doce.Me parecia mel,ou talvez um bolo ou brigadeiro.Tinha textura de balas coloridas;de todas as cores.Em especial as vermelhas.
Ahh!Como eram doces aqueles deletérios...