quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Jeito de mato.

Come se fossem intermináveis as férias e/ou feriados seguem por dias, e dias, e horas... Se permitem o desfrute de se eternizarem. E é nesse ponto de pseudo-sempre que surgem as vontades espremidas no cantinho da alma, junto das tais conversas passadistas familiares. Não que isso seja pecado, muito pelo contrário, me parece uma ótima ocupação, mas um tanto quanto decadente. Isso por que somos - nós filhos da tradição e do pão de queijo - construídos de desejos reprimidos e vontades transformadas em piadas. Também temos o doce e o melado da fala mansa, e digo com orgulho. Mas a casa ainda é assassinada pela moral interiorana.

Ah!Se pudesse acho que todos gritariam suas poesias, fantasias e músicas. Declarariam fetiches aos velhinhos do coreto e mergulhariam em uma overdose de alma, diferente desta que tenho visto nas Minas Gerais. Se coubesse nesse tal canto de terra roxa e mato, diriam sobre seus mitos, fantasias e da extrema admiração pelo impossível. E no meio do gado e da baquiária se assumiria o “eu” que mata e sangra o costume dos baianos cansados - mas trabalhadores, que fique claro. Inteiramente desproporcional e indireto.

Mas mesmo com o amargo no fim do doce de figo eu sei que eles gostam... Eu gosto!O frescor do passado. As lembranças, as certezas incontestáveis (agora contestadas), a nostalgia que surge sempre depois de uns goles a mais – e vem carregada de “uai”.
Pode até ser que Drummond estivesse certo ao dizer: “Há os mineiros que ficam e os mineiros que vão”. E realmente, muitos não se adaptarão novamente a casa amada com cheiro de mato... Mas não se esquecerão e, com certeza, apagarão as más lembranças.
Lá, nos meus breves momentos, finjo sem fingir. Me entorpeço no doce azedo da vida, quase uma coalhada, e posso ser quem não sou sem gastar grandes ursupações. A incrível naturalidade de ser quem se deve ser, pensar o que se deve pensar e falar somente o agradável (seguido de “uai”) acontece. Vem de dentro e estoura, fascinando de fora.
Traumas de tradição não destroem o orgulho do pé no chão não, Drummond.

3 comentários:

  1. Eu invejo o seu orgulho. Não uma inveja ruim, destrutiva, claro. Uma inveja boa, que me faz querer ficar próxima de você e aproveitar um pouco disso tudo ai que você é, que faz parte de você. Posso compartilhar com você um pouquinho desse gosto de pão de queijo?

    Te amo, menina.
    Beijos :*

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  2. ah, como assim?
    eu é que quero ser você quando crecer. juro, que coisa mais bonita que foi esse seu texto. acho que é porque vem de dentro, dessa sua alma de mato. e deve ser porque eu tanto gosto desse seu jeito, dessa sua terra, que meu delírio, ao ler o texto, quase é inveja de não sentir tanto orgulho da minha terra.

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  3. Isso é verdade... sou filho de mineiro, sei o que é ver meus avós voltarem para a sua terra e não conseguirem mais ficar lá... não sentir o prazer de comer os doces, os queijos, e tudo o que aquela terra tem para oferecer ao nosso país...

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