domingo, 28 de junho de 2009

Joana francesa

Vestida de sol e do vermelho mais vermelho entre todos os vermelhos (o que sugere que seja realmente vermelho), ela pôs seus pés pra fora do quarto. Espreguiçou-se como uma gata, com gemidos que pareciam um ronronar.
A noite havia sido dura, se é que me entende. Trabalhara o tempo todo. Extremamente ocupada em dar prazer àqueles pobres coitados, desposados ou não.
Ah!Como aquela noite a cansara. E andando pelo corredor afora era possível sentir seu cheiro de cachaça e suor.
Sentada no bar pedia um duplo, cowboy; rindo maliciosamente para o Seu Chico.
Depois de alguns goles começava novamente seu trabalho. Havia aqueles que reservavam horário, completamente apaixonados por suas mentiras, seus pensamentos, seu trópico. No entanto ela periferia atender aos novos na freguesia.Assim não precisava moldar uma nova forma de atendimento.
Já os velhos a sabiam de cor. Conheciam todos seus gemidos, de prazer e de pavor. De preguiça e de calor.
Lábios de mel eram os dela. Entorpeciam no beijo garotos inexperientes...
Nossa dama - se é que me permitem ousar chama-la assim - era a mais bela mulher. Seus pensamentos inebriavam. Era embebida em sangue e desejo, e a salário, é claro.
A noite, depois de um árduo dia de trabalho, costumava tirar as sandálias que marcavam toda a batata da perna e torcer os dedos. Depois de um banho quente e demorado, vestia uma camisola de bichinhos, herdada da mãe. Completamente broxante (desculpem pela minha vulgaridade). Caminhava segurando sua boneca Íris até a cozinha, onde encontrava novamente com Seu Chico, e tomava uma copada de leite morno com chocolate. Dessa vez nada de sorrisos maliciosos.
Sentia-se criança, sentia-se inteira. Isso a fazia sentir mais prazer do que qualquer detalhe de sua vida operária.
Seu Chico se perguntava:
-Onde é que está seu sol, seus calores?Quem me enfeitiçou?
Seguia pelo corredor até seu quarto e dormia, para acordar para mais um via vermelho.
Já é madrugada. Acorda.
Oh doce dama! Mata-me de rir, fala-me de amor. Vem molhar meu colo. Vou te consolar.

“Tu ris, tu mens trop
Tu pleures, tu meurs trop
Tu as le tropique
Dans le sang et sur la peau”

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